segunda-feira, 12 de maio de 2014

Queimados

Da séria Queimados. Olympus E-510. 14 mm. 1/320. f/9. 15-11-2012


domingo, 20 de abril de 2014

Queimados

Da série Queimados. Olympus E-510. 14mm. 1/50. f/5.6. 15-11-2012

domingo, 16 de março de 2014

Janela aberta

Dei com este livro por casualidade. De facto, não era o destinatário inicial do primeiro exemplar que teve, senão que estava dirigido a outras pessoas, muito queridas para mim. O acaso fiz que o lesse antes que elas.
Devo confessar que conheçia José Alberte Corral de jeito indireto, pelas suas colaborações na revista Elipse, por um encontro telefônico há umas semanas e na apresentação desta obra em Vigo, o 14 de fevereiro. Assim mesmo, foi a Cruz e a Rosa às que o Corral encomendou organizar este ato pela sua amizade de há anos, e elas, pela sua vez, encomendaram-me estar junto ao autor na mesa nessa ocasião. Delas é o exemplar que li.
Há várias circunstâncias pelas que sinto empatia por Corral. Nasceu na Crunha, no bairro de Monte Alto, há muitos anos e criou-se nesse bairro. Junto com a aldeia, a criança de bairro marca fundamente, sei-o, ao me criar eu mesmo num outro bairro.
Capa de Janela aberta

Fundou com “um malhuco” a Agrupação Cultural “O Facho” e militou em organizações clandestinas contra o franquismo e contra as ditaduras sul-americanas patrocinadas pelos EE.UU. A vida levou-o pelo caminho da emigração (exilio nacional) e do exilio por mor da militância antifascista. Lá, publicou o seu primeiro poemário e ensaios de pensamento político. Rematou por aposentar em Caracas até a morte de Franco. Logo voltou à Terra.
Aqui, já tinha escrito outras coisas: panfletos, artigos em revistas clandestinas e poemas. Quando regressou publicou quatro poemário e dois livros de relatos. Janela aberta é o terceiro livro de relatos. Aguardo que haja outros mais.
Janela aberta é, como efeito, um livro de relatos que consegue deleitar. As suas 120 páginas leem-se com muito prazer. As duas horas que supõe, implica transformar uma tediosa tarde de domingo num momento de lezer.
Agora bem, não estamos diante de um produto de consumo e reciclagem, senão duma obra com conteúdo e mensagem. Trata-se dum livro que paga a pena, como diz Carlos Quiroga no prefácio.
Em nossa opinião não se tratam de historias inconexas, senão que cada uma delas, por separado, têm em comum três elementos que os unificam e achegam significado.

O primeiro deles é a relação temporal que achamos na maior parte dos contos. Neles, os sucessos passados som resgatados pela memória do presente. E do passado tem particular relevo a infância. Mas, compre engadir que a memória é frágil e o que lembramos claramente pode ser produto do nosso magim ou um recordo de ontem pode ser, realmente, um acontecimento de há dez anos. O resgate é, às vezes, pouco fiável, de jeito que lembramos com absoluta clareza feitos que nunca aconteceram.
Neste resgate protagonizado pela memória xorde o espaço do bairro como ponto de saída, e moitas vezes de chegada. Em ocasiões, o bairro é um ponto de reencontro casual entre dois amigos que marcharam a lugares do planeta afastados entre si. Ás vezes, o retorno é uma celebração pela morte do canalha que arruína a vida da tua família.
Janela aberta está cheio de trabalhadoras e trabalhadores comuns, mas únicas para os seus seres queridos. Não destacam sobre o coletivo, mesmo há quem, como um pintor famoso no mundo, procura esse anonimato no bairro na sua nenez.
O resultado da agregação destes relatos é a formação duma rede social, dum sujeito coletivo, dum nós plural e diverso, que emerge nos discurso narrativo. Acovilha também a denúncia da emigração como tragédia coletiva provocada por elites sociais.
Finalmente, devo sublinhar que Janela Aberta comove, consegue provocar sensações com as suas palavras. A raiva por uma injustiça, o prazer da vingança, a nostalgia do primeiro amor, a esperança por recuperar a felicidade perdida.
Um bom livro.

CORRAL, José Alberte. Janela aberta. 1ª ed. A Crunha. Através Editora. 122 pp. ISBN 978-84-87305-69-6.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Hyperion 8

Hyperion 8. Olympus E-510. 150mm 1/80, f/5.6, ISO 400. 5-12-2013.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Protesta numa tarde de inverno

As gotas ouveiam a sua turvação contra os vidros
as mãos das arvores estão gastadas.
Nesta tarde de luz cinzenta e amarela
As ninfas nostálgicas
passeiam as suas olhadas tranquilas e sossegadas.
Abrem-se as janelas no novo
Já não chove sai o sol.

As teleoperadoras, graves,
penduram os cascos em sinal de rebeldia
Convertem-se assim em novas bailarinas
Dum velho ballet de passos duros.
As olhadas estão cansas
e as bágoas baixam pela meixelas
Em memória das companheiras
Injustamente afastadas.


E marcham todas para as suas casas.

domingo, 24 de novembro de 2013

Denúncia

Denúncia. Olympus E-510. 42mm, 1/250s, f/10, ISO-100. 29-11-2012.

domingo, 17 de novembro de 2013

Poema numa empresa de trabalho temporário


As sombras passeiam
tristes
pela cidade
e os corações são de plastilina verde

há quem finge chorar
mas ri nos seus adentros
e as jardinhas sulfatadas cantam
uma canção de amor na ribeira

As ondas continuam coa sua luta diária,
quiçá horária
e eu vejo que as gaivotas passam a voar
coma um jumbo do trinque

Tenho uma sensação de perda irrecuperável
Abrem-se os semáforos mais uma vez
O meu suéter tem outra bolinha grave coma

uma queda da tensão eléctrica.

domingo, 13 de outubro de 2013

Ferida aberta



E a luz do sol mostra-se esquiva
Mantêm os fardos sobre as suas cabeças
Por que esta noite hão comer pedras
Que arricam com esforço do chão.
Bica-me mais uma vez
Antes de sangrar pelo nariz
Para que a súplica seja menos oprobriosa e amarga
Porque tens os beiços húmidos.
Emerge da terra uma pedra vermelha
Que prolongará este frio vento de escuridade
E me bicarás com os teus beiços frios
Dessa boca que tens por ferida
E fecharei os olhos enquanto juntamos os nossos corpos
E as nossas mentes desaparecerão entre as ruínas da memória.

Ficará do nosso encontro luxurioso
Uma estirpe de meio-homens dobrados e vencidos
De roupas ligeiras e sem consciência, embrutecidos e voraces,
Sem vontade de seu até o fim dos tempos.
A noite cobrirá os seus membros diminuídos
E as suas vísceras minguarão pela pestilência do veneno
E não choverá nem chegará a primavera.

Bica-me com teus beiços húmidos e frios.

Emerge da terra uma pedra vermelha
Que prolongará este frio vento de escuridade
E me bicarás com os teus beiços frios
Dessa boca que tens por ferida
E fecharei os olhos enquanto juntamos os nossos corpos
E as nossas mentes desaparecerão entre as ruínas da memória.
Ficará do nosso encontro luxurioso
Uma estirpe de meio-homens dobrados e vencidos
De roupas ligeiras e sem consciência, embrutecidos e voraces,
Sem vontade de seu até o fim dos tempos.
A noite cobrirá os seus membros diminuídos
E as suas vísceras minguarão pela pestilência do veneno
E não choverá nem chegará a primavera.

Bica-me com teus beiços húmidos e frios.

Ficará do nosso encontro luxurioso
Uma estirpe de meio-homens dobrados e vencidos
De roupas ligeiras e sem consciência, embrutecidos e voraces,
Sem vontade de seu até o fim dos tempos.
A noite cobrirá os seus membros diminuídos
E as suas vísceras minguarão pela pestilência do veneno
E não choverá nem chegará a primavera.
Bica-me com teus beiços húmidos e frios.

Bica-me com teus beiços húmidos e frios.


 O pó agarima os olhos com o seu sadismo natural
  
Mineiros do carbão. Gales. Aprox. 1900.






quinta-feira, 18 de julho de 2013

A Antíoco Epifanes

A Antíoco Epifanes


O mozo antioquense     díxolle ao rei:
"No meu corazón latexa     un fermoso desexo,
os Macedonios,     Antíoco Epifanes,
os Macedonios están      inmersos en gran batalla.
Se gañan,      a calquera darei
o león e os cabalos,    o Pan de coral
e o elegante palacio,     os xardíns de Tiro
e todo cando me deches,     Antíoco Epifanes".
Quizais se conmoveu     un tanto o rei.
Pero cedo lembrou     o pai e o irma´na
e non respondeu.     Algún espía podería
oís algo. Ademais, nautralmente,
pronto tivo lugar     en Pidn o tráxico final.

Konstantinos Kavafis


Tradución de Iolanda Vilarchao

segunda-feira, 1 de julho de 2013

República Galega


Poema á I República Galega


          Tenho uma vida um pouco atrapalhada e dispersa
          Mas, ainda que passaram os anos,
          Lembro o dia em que te conheci,
          A minha roupa segue a cheirar ao teu perfume
                                                                           - Ou isso penso
          Vieste da mão dos operários do caminho-de-ferro
          Vestida de branco
          E estiveste comigo escassamente umas horas
          E gozei da profundidade das tuas entranhas
          E da suavidade do teu corpo
          Antes de marchares num sol-pôr laranja.

          Deveci por ti durante anos
          E hoje volves comigo, Amada
          E hoje volves connosco, República.


Este poema, junto com outros, foi lido na Repichoca Literária na Festa da República Galega. Fiquei abraiado pela qualidade de Lydia Botana e da sua banda. O trabalho das associações organizadoras (A. C. Foucelhas de Ordes, A. C. Lucerna de Cerzeda e A. C. A Revoltaina Cultural da Beira de Bergantinhos) foi impressionante. O lugar, a antiga estação dos caminhos-de-ferro de Ordes, n’A Pontagra, à beira do rio Lengüelhe, perfecto.   


Proclamação da I República da Galiza, Ourense, 1931.