domingo, 16 de dezembro de 2012

Terra de névoa (Nebeland)


No inverno a minha amada está
entre os animais da floresta.
Que tenho de voltar antes do amanhecer,
sabe-o a raposa e ri.
Como tremem as nuvens! E
sobre o colarinho de neve cai-me
 uma camada de gelo quebradiço.

No inverno a minha amada é
uma árvore entre as árvores e convida
as gralhas abandonadas pela sorte
aos seus belos  ramos. Sabe
que o vento lhe levanta, ao anoitecer,
o seu hirto vestido de noite, repleto de geada
e me  persegue até casa

No inverno a minha amada está
entre os peixes  calada.
Sujeito  às águas, que a linha
das suas aletas move desde o interior,
fico na margem e vejo,
até que me expulsam os gelos,
como mergulha e revira.

E de novo  pelo grito de caça do pássaro
tocado, o qual as suas asas
por cima de mim estica, caio
em campo aberto: ela depena
as galinhas e atira-me uma branca
clavícula. Ponho-a ao redor do pescoço
e afasto-me por entre a  amarga penugem.


Infiel é a minha amada,
eu sei que  às vezes paira
sobre sapatos altos até a cidade,
beija nos bares com a palhinha
os copos profundamente na boca,
e as suas palavras revelam-se a todos.
Mas eu não entendo essa linguagem.
Vi  terra de névoa,
comi  coração de névoa.

Ingeborg Bachman
Tradução de Xesús Manuel da Torre Martíns